Senta que lá vem…
Em momentos como o que vivemos, o jornalismo sério ganha ainda mais relevância. Precisamos um do outro para atravessar essa tempestade.
Faz algumas horas que recebi a notícia da morte do professor Jorge Portugal. Poucos de vocês sabem, mas eu fui porteiro, por cinco anos, do prédio onde ele morou. Trabalhei ali dos quinze aos dezenove anos e nesse período pude ver sua vida agitada nas artes e na educação.
Certa feita, ao chegar do trabalho e passando pela portaria, ele se dirigiu a mim e perguntou que tipo de literatura eu gostava, já que me via sempre com jornais ou revistas (uma orientação dos padrinhos). A conversa se estendeu e daquele dia em diante ele passou a me emprestar livros e gramáticas para eu estudar.
Tempos depois, ele me perguntou que carreira eu pretendia seguir e eu fui categórico: Ainda não sei, mas quero ser reconhecido e respeitado como o senhor e sentar ao seu lado numa mesa de apresentações. Ele sorriu, agradeceu e seguiu seu caminho. O ano era 1995.
Aquela conversa ficou segredada até 2011/2012, quando, na escola em que eu trabalhava, como professor de redação, dividi o mesmo palco com o aclamado professor e apresentador do programa Aprovado, Jorge Portugal. Ele, como convidado da casa para palestrar e eu como professor das turmas para quem ele falaria. Convidado por ele para assumir a fala e diante dos meus alunos, eu contei a minha história, lancei meus agradecimentos e externei minha alegria por aquele momento. Lacrimejando, ele disse: “Eu nunca ouvi história mais impressionante”.
Morreu um homem que olhou para um adolescente porteiro e deu o melhor que qualquer uma pessoa pode dar a outra: esperança e livros.
25 anos depois e aqui estou eu: Licenciado em Letras, Especialista em Educação e Mestre em Estudos de Linguagens, Professor de Redação. Sigo os passos do grande mestre, graças ao empenho, orientações e visão dos padrinhos Eduardo e Mara Lima, que jamais souberam dessa história senão no dia em que eu encontrei o professor Jorge no palco da escola. Eu imagino que tantos outros jovens foram marcados por esse grande homem e que tenham construído suas carreiras seguindo o exemplo que ele deu.
Sigo meu caminho desejando marcar vidas e ser exemplo para meus estudantes, assim como me inspirei nesse professor. Sigo almejando tocar corações, encorajar sonhos, dar esperança e mostrar que é possível encontrar água no deserto, beleza em dias cinzentos e joias num amontoado de lixo.
Professor também é herói.
Kia kaha.
*Gilmar Souza Costa é mestre em Estudos Linguísticos, especialista em Gestão da Educação e graduado em Letras com Francês
Texto originalmente publicado no Facebook e replicado com autorização do autor
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(Fotos: Arquivo Pessoal e Secom)
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