Giorggio também ensina como produzir vassouras e varais feito com garrafas pets em vídeos compartilhados na internet. Canal dele tem 104 mil inscritos.
Início de um divórcio, vergonha de si mesmo e o medo de perder o emprego fizeram com que Giorggio Abrantes Pordeus, de 37 anos, desse um basta no “momento mais difícil” da vida dele, marcado pelo alcoolismo e as consequências do vício. O processo de reabilitação tomou forma quando ele aprendeu a confeccionar vassouras e varais, com a reciclagem de garrafas pets, em Aparecida, município do Sertão da Paraíba.
A dependência do álcool bateu à porta da história de Giorggio em um período curto de tempo, mas o suficiente para que o fizesse quase perder o que tinha de mais valioso: a família. Após episódios causados pelo efeito da bebida, o casamento de quase 10 anos chegou ao fim. Longe dos dois filhos e da esposa, ele percebeu que precisava de um novo rumo.
“Quando houve a separação, caiu a ficha de que eu tinha que mudar de vida. Eu bebia todos os dias e só ia piorar. Se eu não parasse com a bebida, só iam acontecer coisas ruins”, pontuou.
Por iniciativa própria, ele buscou tratamento médico em Sousa, município que também está localizado no Sertão paraibano. O constrangimento não permitiu que ele continuasse na cidade em que mora.
A família se reuniu e arrecadou a quantia necessária para que ele se internasse em uma clínica de reabilitação, local onde teve o primeiro contato com a reciclagem. Ele não se identificou com o local, mas prosseguiu o tratamento em um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), onde ainda é acompanhado.
O esforço de Giorggio restaurou o casamento dele. Ele e a companheira se reconciliaram e começaram uma nova trajetória para o casal. Com o apoio da família, ele se orgulha em dizer que não bebe há três anos.
Produção das vassouras e varais
A profissão de gari ajuda o sertanejo a conseguir matéria-prima para a produção das vassouras e varais. Enquanto deixa as ruas limpas, ele também recolhe as garrafas que vão receber uma nova utilidade. O material que falta é comprado de oficinas de reciclagens, já que o lixão de Aparecida foi desativado e os catadores não trabalham mais no local.
A produção começou de forma simples no quintal da casa em que mora. Como não tinha capital para iniciar o negócio, ele aprendeu sozinho a construir as máquinas que precisa para fazer o trabalho. A maior parte dos equipamentos foi desenvolvida com sucata e ferro velho.
Consciente do que faz, ele acredita não apenas em uma transformação de vida, mas em uma missão. “[A reciclagem] mudou a minha vida pra melhor. O plástico é um grande problema. É preciso reutilizar, reaproveitar e reciclar”, reforçou.
Atualmente ele divide parte das funções com um amigo, que também trabalha em casa. Juntos, eles confeccionam cerca de 20 dúzias de vassouras por mês e uma dúzia de varais por dia. A atividade ajuda na renda familiar dos dois.
Os produtos são comercializados somente em Aparecida. Mas ele passou a receber muitos pedidos pela internet, e ainda estuda uma forma de conseguir enviá-los sem um custo alto.
Gari faz vídeos-tutoriais na web
Giorggio acredita que pode ajudar outras pessoas que estavam na mesma situação que ele e não acham uma solução para seguir em frente. Por isso, ele passou a compartilhar vídeos no canal do Youtube, que conta com 104 mil inscritos. Na plataforma, ele ensina como fazer os produtos e ainda as máquinas com que trabalha.
O conteúdo é todo produzido por ele. Roteirizar, gravar e editar os tutoriais sozinho exige dedicação, mas ele não se abala mais com as dificuldades.
O sonho de Giorggio, no momento, é conseguir alugar um local para montar uma oficina. A casa dele ficou pequena para tanto material e trabalho. O espaço também servirá para ensinar aos catadores da cidade, que estão sem emprego, a como começarem o próprio negócio. Ele pretende, ainda, doar máquinas para que eles montem uma cooperativa.
“Não os vejo como concorrentes, mas aliados. Não viso o dinheiro com esse trabalho, mas uma forma de reciclar o plástico que prejudica tanto a natureza. Tenho que passar esse conhecimento para outras pessoas”, concluiu.
Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo
Um reportagem do G1 mostrou um estudo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza em 2019, que indica que o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo. O país produz 11.355.220 milhões de toneladas de lixo plástico por ano e recicla apenas 1,2%, cerca de 145.043 toneladas.
Já uma série especial feita pelo G1 sugere como diminuir os resíduos de lixo plástico durante atividades cotidianas (veja no infográfico baixo).
Por Iara Alves, G1 PB
27/09/2020 12h38 Atualizado há 23 horas
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