A Feeac, juntamente com representantes do Seeac RS e do Sindiasseio Novo Hamburgo, estiveram presentes na última quarta-feira, 23/10, no Espaço Memória, do Ministério Público do Trabalho, em Porto Alegre, para participar do Seminário sobre Violências de Gênero no Trabalho. O evento foi realizado pelo Comitê Regional de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade da instituição. Palestrantes falaram sobre diferentes perspectivas de violências de gênero e compartilharam experiências com o público.
O encontro teve as manifestações de Anne Bruneau, presidente da Associação dos Haitianos no Brasil (AHB), de Bruna Schatschineider, pedagoga, e neuropsicopedagoga e coordenadora adjunta do Movimento Feminista de Mulheres com Deficiência; de Caroline Moreira, fundadora e presidente da Negras Plurais, aceleradora de negócios de mulheres negras, e ex-secretária adjunta na Secretaria de Justiça do RS; de Célia Regina Maschmann dos Santos, professora, artista visual e cabeleireira; e de Maria Luiza da Silveira Vieira de Moraes, cabelereira e maquiadora.
A primeira fala da tarde foi de Bruna Schatschineider. Ela lembrou que, dentro do problema geral da violência de gênero sofrida por todas as mulheres no ambiente de trabalho, a questão das mulheres com deficiência é ainda mais profunda pela pouca atenção pública voltada para o problema. Também referiu que, mesmo com as iniciativas de cotas para pessoas com deficiência, mulheres deficientes ainda são contratadas em índices muito menores do que homens deficientes. Ela lembrou que o trabalho é um elemento importantíssimo na luta de pessoas com deficiência por autonomia.
“O trabalho enobrece. É uma frase clichê, mas é verdade, e para uma pessoa com deficiência é mais ainda. Ela ganha dignidade, ela ganha autonomia. Coisa maravilhosa é uma pessoa poder levantar, se arrumar e poder dizer: ‘Estou indo para o meu trabalho. Estão vendo potencialidade em mim’, ‘Estão vendo capacidade em mim’. E para a pessoa com deficiência é mais ainda: ‘estão vendo a minha capacidade’. Mas infelizmente não é assim que acontece”, disse.
Na sequência, a presidente da AHB, Anne Bruneau, contou um pouco de sua própria história como imigrante que se mudou para o Brasil em 2017, e a usou para ampliar o foco de sua apresentação para os problemas que afligem o imigrante em um país novo. Não apenas a dificuldade de conseguir um trabalho, mas o de mantê-lo, uma vez que não há uma cultura de diálogo e acolhimento com um trabalhador transplantado para um novo país com cultura e idioma distintos.
“Os refugiados vêm para o Brasil em busca de uma vida melhor. E é preciso lembrar que a cultura daqui é diferente da cultura que a gente tinha lá em nosso país. O idioma também. É um começo do zero. E nesse começo do zero, a pessoa pode sofrer estresse, ansiedade e muita falta de aproximação. Como a pessoa não fala muito bem o português, muitas vezes são trabalhadores isolados, excluídos”
Caroline Moreira falou sobre como a experiência da violência de gênero no trabalho, não apenas física, mas também a violência verbal, pode mudar a própria autoimagem de uma mulher trabalhadora – de forma mais acentuada ainda no caso das mulheres pretas.
“Muitas vezes existe esse cargo de poder que está acima da gente que vai causar um desconforto para mostrar que não, nós não temos competência para exercermos nossas funções ou que não acreditam em nosso trabalho. E isso pode criar um ambiente todo no qual os colegas também vão sentir que aquela pessoa não é competente, causando um ambiente tóxico”, comentou.
Célia Regina Maschmann dos Santos abordou, a partir de sua experiência como profissional da área da estética, as diferenças de tratamento ainda vigentes entre homens e mulheres, nessa indústria hoje estabelecida como um grande mercado, mas no qual as principais marcas e empresas são comandadas por homens, embora a maior parte dos trabalhadores e clientes sejam mulheres. Um problema que tem raízes históricas bastante antigas:
“Quando o mercado da beleza começa a se firmar como de fato um mercado, como um comércio de serviços, principalmente na Europa, entre 1910 e 1940, quem são as pessoas que se tornam expoentes nessa profissão e se tornam notórias? Homens. Mulheres de família não trabalhavam, muito menos atendendo público” explicou.
A também profissional da área da estética Maria Luiza da Silveira Vieira de Moraes deu um emocionado depoimento como uma mulher trans, bem como partilhou a dificuldade enfrentada por essas pessoas, alvos de muitos preconceitos e violências, também, no mercado profissional .
“O mundo do trabalho sempre foi um ambiente muito hostil para mim. Hoje, no meu auge, aos 30 anos, eu consigo enfrentar isso muito bem, mas durante muito tempo não consegui. Para vocês terem uma noção, eu atendia algumas clientes com a cadeira virada contra o espelho, porque eu não queria me expor, tinha medo de sofrer algum ataque, como sofri muitos. Mas hoje não me coloco mais nesse lugar, porque entendo que cada pessoa, infelizmente, só vai dar para o outro aquilo que tem para dar.”
A mesa de abertura teve a participação do procurador-chefe substituto do MPT-RS, Victor Hugo Laitano; da presidenta do Comitê Regional de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade da PRT-4, procuradora do trabalho Márcia Medeiros de Farias, e do procurador regional Viktor Byruchko Jr, também integrante do comitê. O procurador Victor Hugo Laitano saudou a realização do seminário e reforçou a importância da iniciativa.
“Nós sabemos que esse é um tema que necessita de discussão constante, é um tema urgente na sociedade, então parabenizo com orgulho a iniciativa do comitê”.
No final do evento, as palestrantes convidadas responderam perguntas da plateia. Ao concluir o seminário, a coordenadora do comitê, procuradora Márcia Medeiros de Farias, ressaltou a riqueza da experiência e a importância de se abrirem mais oportunidades para que vozes como as das palestrantes sejam mais ouvidas.
“Nós agradecemos a disponibilidade e a generosidade das nossas convidadas em partilharem suas visões nesta discussão”, afirmou.
FONTE:https://www.feeacrs.com.br/feeac-e-sindicatos-participam-de-seminario-no-mpt-sobre-violencias-de-genero-no-ambiente-de-trabalho/
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